Cabo Finisterra



Aproveitámos um fim de semana "grande" e lá fomos dar uma volta pelos Caminhos de Santiago, um dos pontos altos da viagem foi o famoso km 0 dos Caminhos de Santiago, mais conhecido por cabo Finisterra. É certo que a Catedral de Santiago de Compostela é o destino de todos os peregrinos que caminham até ao Apóstolo Santiago. Mas para muitos não é o destino final. Esse fica a cerca de 90kms a oeste de Santiago, na mítica Costa da Morte. Falamos do já centenário epílogo do Caminho de Santiago até ao Cabo Fisterra (desde o século XII que há registos de peregrinos em Fisterra), que na Idade Média era considerada a ponta mais ocidental da Europa, o Fim da Terra, antes de Colombo descobrir a América, e o troço final dum itinerário marcado no céu pela Via Láctea.
A tradição secular diz que o peregrino deve queimar algo que usou na sua caminhada na ponta do cabo (as botas, a mochila, um casaco, etc), um ritual de purificação e renascimento. Ainda hoje o ritual é cumprido por muitos peregrinos, se bem que presentemente esteja oficialmente proibido fazer fogo no Cabo Fisterra.



O Caminho a Finisterra é realizado pelos peregrinos que desejam conhecer o mar e ver o "Fim do Mundo", ou o "Fim da Terra", ou também como é chamada "A Costa da Morte".
A região esta situada nos confins do velho continente em um dos pontos extremos da Europa, é considerado como uma terra mágica, cheia de lendas e tradições que a cada dia se projeta transformando-se num polo turístico. As pessoas que visitam a região sentem-se encantadas pela beleza das paisagens costeiras, pela riqueza do seu património histórico, pelos seus imponentes faróis, pela magia de suas pedras, e claro, pela sua excelente gastronomia.
A idéia da peregrinação pelas terras mais ocidentais da Europa, já estava presente nas crenças dos povos Celtas.
Essas velhas crenças tinham também relação com a viagem que diariamente realizava o sol correndo do oriente para o ocidente, para depois submergir nas águas do oceano e voltar a renascer seguidamente no outro dia. Essa idéia do renascer do sol e da vida, passaram aos romanos, sendo mais tarde cristianizados pela religião católica.
Quando nos princípios do século IX, se descobriu o sepulcro do Apóstolo Santiago, a Igreja católica deu um sentido cristão a estas velhas idéias de peregrinação, orientando para Compostela cidade que se converteu em um grande foco de atração durante toda a Idade Média. Tradições locais, informam da passagem do Apóstolo Santiago por aquela área, e no século XI já aparece o relato de Duiu referente à translação do corpo.
No meio do século seguinte é fixada a versão definitiva através do Códice Calixtino. Deste jeito Finisterra fica integrada de forma sólida ao circuito europeu das peregrinações.
Segundo o Códice Calixtino, uma vez desembarcado os discípulos do filho de Zebedeu em Padrón com o corpo do Apóstolo, Lupa rainha daquelas terras, enviou-os a Duiu para que o legado romano lhes concedesse a permissão para enterrar o Apóstolo. Este, com intenção de matá-los, encarcerou-os, sendo libertados por um anjo, conseguindo fugir. Quando estavam a ponto de serem alcançados pelos soldados que os perseguiam, cruzaram a ponte de Nicraria (identificada como a ponte romana de Nós, hoje sob as águas da barragem de la Maza), que desaba, providencialmente, ao passar das tropas.
Foi nessa época quando começou a chegarem a Finisterra e Muxía os primeiros peregrinos cristãos, chegada da qual temos conhecimento desde o século XII, através de um documento de doação ao Monasterio de São Xian de Moraímo efetuado pelo rei Alfonso VII, no qual constava alusão a passagem dos peregrinos por essas terras.
Visitar a Costa da Morte significa chegar ao fim de um velho caminho de peregrinação pelas terras mais ocidentais da Europa, seguido por milhares de pessoas ao largo de muitos anos, para encontrar-se com o renascer da vida, com velhos cultos pagões e os elementos da natureza, que aqui se manifesta com todo o seu esplendor: a água, o sol e as pedras; que cristianizada mais tarde, deram, origem a concorridos santuários como o da Virxe da Barca, o Cristo de Finisterra, ambos relacionados com a Rota Jacobea.



O Cabo Finisterra é um promontório de granito, de uma altura de 600 m, situado no concelho de Finisterra, província da Corunha, na Galiza (Espanha), e constituindo uma península de 3 km de comprimento. O cabo serve de linha divisória entre as Rias Baixas e as Rias Altas galegas.
O emblemático cabo obteve a distinção de Património Europeu em 19 de março de 2007, tornando-se um dos trinta bens escolhidos pela União Europeia como elementos com um "papel essencial na história e na identidade da Europa"

O marco do km 0
No cabo existe também como não podia deixar de ser um farol, que devido à sua localização se tornou muito importante para as embarcações que andam na zona.
O farol foi construído em 1853, a torre mede 17 metros e a sua luz, situada a 143 metros de altura acima do nível do mar, alcança mais de 30 milhas náuticas equivalente a 48,28 kms. A constante névoa do Inverno provocou que lhe fosse acrescentada uma sirene em 1888, a Vaca de Finisterra, como é chamada tão carinhosamente para avisar os navegantes do perigo existente. Ainda assim, foi palco de naufrágios, como em 1870, quando o "Monitor Captain" se afundou levando 482 pessoas da sua tripulação, no acontecimento mais trágico desta costa.
A torre, feita de cantaria, é de base octogonal, e acaba numa cornija sobre a qual se apoia a varanda. Em cima fica a abóbada, com uma lanterna poligonal.

É impressionante a imensidão do oceano naquele ponto, não admira que os antigos julgassem ser ali o fim do mundo. 



Há qualquer coisa de estranho naquele local, não se consegue explicar, talvez a fé ou algo mais, não sei. Senti que nos limpa e nos faz renascer para uma nova vida, nos alivia de um peso que carregamos às costas, de pensar o quanto é difícil a caminhada mas que conseguimos. Um começar ou continuar com mais vontade ainda. Há sítios que nos marcam e este marcou-me.
Deixei todos os pensamentos voar, como o vento que me soprava no rosto. E ao som do bater das ondas contra o cabo e tendo um oceano imenso a perder-se no infinito, a meus pés, prometi que haveria um dia de regressar.



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