Serras Portuguesas Junho 2020 (2ª Parte)

Continuação ...


Antes de sairmos de Freixo de Espada à Cinta ainda parámos num café para tomar qualquer coisa e petiscar, iríamos entrar novamente na nossa grande descoberta que era a N221 e se não fosse ali ... sabe-se lá onde seria. 😂😂 
Até Miranda do Douro seria sensivelmente uma hora de caminho, sempre ao longo do Douro e com a nossa vizinha Espanha à vista, cada curva, cada aldeia que atravessávamos era um encanto, que linda é esta região. O vento, por vezes forte, dava-nos safanões e no céu o negro das nuvens fazia-nos adivinhar chuva e mau tempo. Os belos dias de sol que tínhamos tido nesta aventura estavam a chegar ao fim, olhava-se constantemente para a aplicação do telemóvel na esperança que o tempo desse a volta e sol continuasse connosco, mas não, o resultado da pesquisa era sempre o mesmo. 
Chegados a Miranda do Douro parámos as motas junto à muralha e fomos explorar as ruas da cidade antiga.


Miranda do Douro sempre soube conservar as suas tradições e modos de vida num tempo cada vez mais “arrojado”. Por exemplo a própria língua - o Mirandês que é património único na região e que tem sobrevivido à passagem do tempo ilesa. As placas que indicam os nomes das ruas estão todas em Mirandês por exemplo.




Mas há outras tradições que ainda hoje sobrevivem como em tempos atrás, dado o interesse que as gentes manifestam e o carinho com que são mantidas na região. É o caso do colorido folclore com a famosa dança dos paus, ou dos Pauliteiros de Miranda, com o seu típico trajo de saias e acompanhados pelo toque da gaita de foles. São uma herança viva da ocupação Celta da região na época da Idade do Ferro.
Foi há muito tempo atrás que os primeiros povos começaram a permanecer por estas terras, entre eles há vestígios da forte presença de Celtas e Romanos. A região tornou-se uma posição estratégica importante, dada a proximidade com Espanha, devido às várias batalhas que se desenrolaram ao longo dos tempos, em especial na Idade Média.



Quando se realiza o Tratado de Alcanices que foi celebrado entre D. Dinis e Fernando IV, rei de Leão e Castela, dá-se a fundação de Miranda do Douro em 18 de Dezembro de 1286 e é elevada à categoria de vila, aumentando também os privilégios de que já dispunha.
Mais tarde, D. João III eleva Miranda do Douro à categoria de cidade a 10 de Julho de 1545.
Miranda do Douro tem um rico património natural, social e edificado, como são exemplo as suas bonitas casas antigas.





O seu monumento mais imponente é a Sé, hoje chamado de Igreja de Santa Maria Maior, construção do século XVI. 



Não tive possibilidade de a visitar, pois tinha deixado a máscara na mota e não me deixaram entrar sem máscara. Malvada pandemia, um dia tenho que voltar para a conhecer por dentro.
Ao lado da Sé tem-se uma vista espetacular sobre o rio Douro e as suas margens, de um lado Portugal, do outro Espanha. 




Outra igreja também muito bonita e igualmente do século XVI é a igreja da Misericórdia, situada no largo com o mesmo nome. A sua construção ocorreu entre os anos de 1554 e 1559 a mando do Bispo D. Rodrigo de Carvalho, tendo ficado pronta no ano de 1589. Como devem imaginar também não a visitei pelas mesmas razões. 😢




A Praça D. João III é a praça principal e mais central da cidade histórica de Miranda. É de onde partem as principais ruas do centro. 

Nesta praça estão alguns dos edifícios mais importantes da vila, a Câmara Municipal, o Museu da terra de Miranda, e o Solar do Ordazes. No centro da praça há uma escultura urbana muito peculiar que o meu amigo Jorge Flora adorou. 😂😂






Já de regresso às motas e voltando por uma das ruas que sai da praça D. João III, encontrei o antigo edifício da Alfandega.  
A Alfândega é um edifício do século XV que veio a sofrer obras em mais três ocasiões. Já nos finais da época medieval, com expressão na sua varanda que corria em toda a fachada e com um portal em arco quebrado recuado em relação à actual fachada. A primeira ocorrência de obras deu-se no século XVI, com a transformação do portal para arco de volta perfeita, com motivos manuelinos, avançando-a no sentido da rua. Nos finais do século XIX, das reformas feitas, uma delas foi abertura das actuais janelas. Já no século XX, o telhado medieval de duas águas que persistia foi substituído por uma pendente. Finalmente em 2004 foi restaurado, mantendo assim toda a linha da sua história. Para além da Alfândega, de posto de G.N.R., passando o testemunho para a Casa da Cultura Mirandesa.





Estava na hora de nos metermos à estrada e ir até perto de Chaves, mais propriamente até ao https://www.facebook.com/ParqueCampismoChaves. Tínhamos 160 kms pela frente e cerca de duas horas de caminho por isso há que pôr rodas ao caminho e vamos lá. Durante o percurso ainda "esbarrámos" com umas placas de betão, pois o meu amigo GPS teimou que o caminho mais rápido de Miranda do Douro até Chaves era por Espanha, ninguém o informou que as fronteiras estavam fechadas, e no meio de uma serra manda-me virar à esquerda e a única placa que vejo no entroncamento indicava "Espanha", achei estranho mas siga a marinha. Passado uns dois kms e depois de uma curva, bingo, estrada cortada, não podíamos passar para Espanha, claro né. Volta para trás e anda dentro do teu país e deixa-te de aventuras espanholas nestes tempos. E por volta das 18:30 lá chegámos ao parque de campismo de Rebentão, perto de Chaves. 
Recepção feita e vai de escolher local para montarmos o nosso acampamento. 
Reparem como somos rápidos e bem despachados a montar tendas 😂😂




Tendas montadas era hora de preparar o jantar, um belo esparguete à bolanhesa.



Depois do jantar consultámos pela última vez a aplicação da metrologia para decidirmos como seria o dia seguinte. No programa estava irmos à conquista da serra do Gerês mas após o jantar decidimos abortar a conquista dessa serra pois o tempo estaria péssimo. No dia seguinte iríamos nos virar para sul e conquistar a serra do Alvão. 


Dia 4


Durante a noite a chuva caiu, o vento soprava com alguma intensidade mas as nossas tendas aguentaram firmes a tempestade nocturna. A aplicação do telemóvel desta vez não falhou, o céu estava carregado de nuvens, algumas bem negras e prontas a explodir num mar de água. 



Arrumámos tudo e fomos ao Km 0 da N2, só para não dizermos que tivemos em Chaves e não tínhamos passado pelo km mais falado ultimamente no mundo do motociclismo nacional. Comprámos os famosos pasteis de Chaves para quando nos desse a fome e lá saímos nós pela "ilustre" N2, a ideia seria ir até Vila Pouca de Aguiar, depois seguir em direcção a Mondim de Basto, aí entrar na N304 e conquistar o Parque Natural da Serra do Alvão. O tempo continuava instável a ameaça de chuva era uma constante, chegámos a Vila Pouca de Aguiar e começamos a subir para Mondim de Basto, numa curva deixo de ver o Flora, abrando na esperança que me alcançavam, até que parei na berma e nada. Volto para trás ao encontro deles, lá estavam eles encostados na berma junto a uma paragem de autocarro, da carreira como se diz por estas bandas, a razão da paragem era o frio que o Flora estava a sentir e tinha que vestir mais um casaco, até que o Santos ao olhar para o pneu de trás da Ducati, repara que tem algo brilhante no pneu traseiro. - Upsss um furo pensam vocês ... nada disso amigos, pior, o bom do Flora tinha os arames do pneu traseiro à mostra. Naquela altura só me deu vontade de lhe bater 😡😡, - "Eh pá, eu sabia lá que o pneu estava assim" dizia ele, perguntou-me o que havia de fazer. Só lhe respondi, - "vais de fininho para Lisboa e reza para o pneu não rebentar" por vezes também sou um pouco bruto a falar mas estava a ver a nossa aventura terminar ali no meio de uma serra com um pneu com o esqueleto à mostra. Era sexta feira, no meio do nada, a chuva começava a cair e nós sem pneu traseiro na Ducati. "Faz Parte da Aventura". Depois de quatro telefonemas conseguimos descobrir onde havia um pneu com aquelas medidas, o representante da KTM em Vila Real tinha. Não vamos perder mais tempo, a chuva já não dava tréguas, até Vila Real a estrada não é a melhor para grandes correrias mas lá chegámos ao representante para mudar o pneu. Com tudo isto já era perto das 13 horas, a chuva continuava mas a mota do Flora estava quase pronta com "sapatinho" traseiro novo, até que o Santos chega-se ao pé de mim e faz-me a seguinte pergunta: - " Vai lá ver o meu pneu da frente e diz-me o que achas", olhei para o pneu de seguida olhei para ele e respondi com muita calma: - "Queres que te seja sincero ?, olha eu já não saía daqui com esse pneu, agora tu é que sabes", nem estava acreditar no que se estava a passar. O Santos com aquela maneira muito própria dele diz: - "Fo#&-§% fiz quase mais curvas nestes últimos três dias do que na p£#% da minha vida toda, assim não há pneu que aguente". Disse-lhe que o melhor seria ver se tinham pneu para a frente da Pan também, pois com aquele tempo não se podia arriscar. Haver, havia mas eram 13 horas, o pessoal tinha que ir almoçar e agora só montavam o pneu na Pan às 14:30. Bonito serviço pensei eu. Fomos até uma esplanada ao pé da Casa de Mateus, bebemos um Porto Tónico (coisa fina) e esperámos que chegasse as 14:30 para mudarmos outro pneu. 

Entrada da Casa Mateus

Gerês devido ao mau tempo, já era,  Mondim de Basto e N304 idem, Parque Natural da Serra do Alvão e Fisgas do Ermelo passaram à história também, hoje resta-nos esperar que mudem o pneu à Pan, continuar apanhar chuva e com sorte pode ser que se consiga chegar à barragem de Varosa e à sua escadaria. 
E por volta das 16 horas finalmente tínhamos pneus novos da Ducati e na Pan, destino, Barragem de Varosa perto do Peso da Régua, de Vila Real até à Régua seguimos pela N2, a estrada não está lá em muito bom estado mas a paisagem faz esquecer os buracos e a chuva. Atravessámos o Douro para o outro lado na Régua e começamos a subir pela M542 em direcção a Valdigem e no alto desta vila vira-se à direita para a Barragem e começa-se a descer vertiginosamente e com umas curvas bem apertadas até chegarmos finalmente ao paredão da Barragem. 



O Rio Varosa, antes de entrar no rio Douro, sofre uma súbita depressão entre Valdigem e Peso da Régua. Tornou-se então sítio invejado por quem quer criar electricidade a partir das correntes dos rios, e assim se construiu a Barragem de Varosa, em 1976. Como a maioria das barragens, a vista de montante a planta é côncava, estando a escadaria do lado Oeste. Assim, a melhor forma de a olhar é pelo outro lado, de este. Chegámos à ponta oriente desta engenharia de betão e vemos do lado oposto, uma desordenada serpente de degraus a subir e a descer. Tal e qual como nos socalcos vinhateiros do Douro, que estão ali tão perto. Mas em vez de terra, aqui é de cimento. Uma forma  maravilhosa de desenrascanço arquitectónico. São escadas tão a pique que a diferença entre as subir ou fazer alpinismo não é grande. 




A chuva tinha dado uma trégua mas não podíamos esperar muito pois não tardaria, voltava a cair, o melhor que tínhamos a fazer era ver tudo rapidamente e preparar para arrancar a qualquer momento, nem os capacetes tirámos para dar "de fuga" se o dilúvio voltasse de novo. 




Era hora de voltarmos à estrada em direcção a São Pedro do Sul, as motas esperavam por nós no início do paredão e a chuva mais uma vez voltava a cair. 😢




 E lá voltámos à estradinha molhada, com cuidado lá fomos andando por aquelas estradas maravilhosas do interior do nosso Portugal, umas meio estranhas que o meu GPS teima em me mostrar, umas vezes voltávamos à N2 e cruzávamos com motociclistas que a andavam a fazer, e lá íamos nós cantando e rindo até São Pedro do Sul.

Até fomos fotografados pelos amigos do https://quilometroinfinito.com/ . Obrigado pela foto !

Numa paragem que fizemos naqueles cafés pequeninos à beira da estrada, as pessoas quando paramos olham para nós como se estivéssemos a chegar de outro planeta, um senhor que estava lá disse logo:"vocês estão enganados, esta estrada não é a N2". E lá tivemos que explicar ao senhor que não andávamos a fazer a N2 mas sim à conquista de serras que pelo dia de hoje não estava a correr muito bem pois já tínhamos desistido da conquista de duas. Estávamos nós para arrancar e pára uma carrinha com um casal nosso amigo, o Ricardo Silva e respectiva família, dois dedos de conversa e  lá seguimos finalmente até São Pedro do Sul. Assim que chegámos fomos directos ao supermercado para comprar mantimentos para o jantar. Compras feitas era hora de ir até ao https://bioparque.org/ em Carvalhais, São Pedro do Sul. Ao sairmos do parque de estacionamento parei e voltei-me para trás a fim de ver se o Flora vinha lá, não sei que volta dei que quando me volto para a frente a mota deitou-se no chão, só faltava mais esta hoje. Éramos três para a voltar a colocar na posição correta, tal era o peso que ela transportou nesta aventura. Atravessámos São Pedro e seguimos em direcção a Carvalhais, a chuva cada vez era mais e ainda tínhamos o jantar para preparar e as tendas para montar, ia ser bonito. 
Chegados ao Bioparque optámos por ficar nas casinhas de madeira que eles têm espalhadas pelo parque, não fizemos mal a ninguém, o dia tinha sido difícil e ainda montar tudo à chuva, deixem estar, hoje merecemos uma casa. 😜😂


Tudo descarregado era hora de ir para a cozinha preparar o jantar



Prato do dia, quer dizer neste caso, prato da noite, Arroz com ovos mexidos e salsicha, acompanhar com um belo tinto do Alentejo e um espumante da bairrada. Ólecas ..


Hora de descansar que amanhã há mais ...



Dia 5



A chuvinha não queria nos deixar, o sol tentava furar entre as nuvens, era a nossa esperança de que o sol iria vencer hoje e nós iríamos conseguir conquistar a serra do Buçaco e da Lousã. Arrumamos tudo e deixamos o "nosso chalet" naquela dessa floresta e partimos em direcção ao Luso. 




Ainda demos uma volta pelas maiores termas do país, as termas de São Pedro do Sul. Estava tudo fechado, devido ao bicho as termas nesta altura ainda estão fechadas e à espera de melhores dias. E a rolar bem pela N228 facilmente chegámos a Mortágua e dali até ao Luso foi um pulinho. 
O Luso é muito conhecido pelas suas águas termais, talvez as mais conhecidas dos país, sem esquecer que o seu território, grande parte da serra do Buçaco, é conhecida pela sua exuberante paisagem. Foi perto do Luso que se travou, em 1810, a batalha do Buçaco entre as forças napoliónicas e anglo-lusas, no quadro da Guerra Peninsular. O melhor é deixarmos as guerras e irmos beber um pouco de água do Luso directamente do local onde ela nasce.


Entre estas pedras nasce a famosa Água do Luso



Cuidado com a água !

Subimos pela avenida onde normalmente há muita gente, hoje estava deserta, os parques dos autocarros de turismo vazios, o turismo está parado, as barracas de venda de lembranças da zona, fechadas, enfim ... é o trágico período que o mundo está atravessar. Entrámos na Mata Nacional do Buçaco e tivemos que pagar 5 euros por irmos de mota se fosse de carro era 7,5 euros, a pé é grátis. De repente estávamos numa floresta imensa, com árvores gigantes, um ar puro que apetece comer e não respirar, é linda a Mata do Buçaco. Rapidamente chegámos ao grande Palácio do Buçaco e aos seus jardins. 




O Palácio Real foi mandado construir pelo rei D. Carlos I como pavilhão real de caça, é hoje um hotel e considerado por muitos como um dos mais lindos do mundo. Foi construído entre 1888 e 1907, o edifício em estilo neomanuelino, está decorado com painéis de azulejos, frescos e quadros alusivos à Epopeia dos Descobrimentos portugueses No início de Agosto de 1904, o rei D. Carlos decidiu fazer um raid turístico ao Buçaco, que não visitava há vinte anos, permanecendo três dias e prometendo voltar com a rainha. Entusiasmado, cumpriu rapidamente a promessa, e em finais do mês, regressou acompanhado da rainha D. Amélia de Orléans e Bragança para inaugurar rapidamente o hotel, organizando festas, bailes e concertos, e chegando, em ocasiões especiais, mesmo a dar aos seus convidados o prazer de ouvir a sua bela voz de tenor. 

Foi também justamente aqui que se realizou a ultima cerimónia oficial da Monarquia Portuguesa, quando da comemoração do centenário da Batalha do Buçaco, a 27 de Setembro de 1910, tendo o jovem rei D. Manuel II partido para o exílio uma semana depois, quando da implementação da Republica.




Junto ao Palácio Real existe ainda o convento de Santa Cruz do Buçaco e foi construído entre 1628 e 1630 pela Ordem dos Carmelitas Descalços que o ocupou de 1630 até 1834, data da extinção das ordens religiosas masculinas. Mais tarde e no contexto da guerra peninsular em 1810 as suas instalações serviram de hospedagem a Arthur Wellesley, duque de Wellington que comandou as forças anglo-portuguesas contra as do general francês André Massena na batalha do Buçaco. Em 1888 o convento parcialmente demolido dá lugar ao actual Palácio Real.


A Batalha do Buçaco, um episódio da Guerra Peninsular ocorrido durante a 3ª Invasão Francesa que opós tropas aliadas Luso-Britânicas à armada de Napoleão, foi travada a 27 de Setembro de 1810, nas proximidades da Mata Nacional do Buçaco. O General Wellesley, futuro Duque de Wellington, comandante das tropas aliadas, escolheu o Monte do Buçaco para fazer frente às tropas francesas e o Convento de Santa Cruz do Buçaco como a sua base de operações. Wellesley e os seus soldados ficaram aqui alojados entre 21 e 27 de Setembro de 1810. Segundo um testemunho da época, o frade carmelita José Silvestre, o General Wellesley, levantava-se pelas 5 horas da manhã, às 7 horas saía a rever o campo e as tropas, regressando perto das 4 horas da tarde para jantar às 5 horas. É neste contexto que surge a lenda que antes de jantar amarrava o seu cavalo nesta Oliveira, dando origem à designação de "Oliveira de Wellington"
 

"Oliveira Wellington"

E deixámos este lugar cheio de história e continuámos a subir em direcção à Cruz Alta, o ponto mais alto da serra do Buçaco, fica a 547 metros de altitude, e dizem que em dias de céu limpo e grande visibilidade, consegue-se avistar do oceano Atlântico até à serra da Estrela. Não tivemos essa sorte pois o céu estava bem carregado de nuvens mas deu para ver ao fundo o Luso que já não é mau. 😃 






Serra do Buçaco conquistada, era hora de irmos à conquista da serra da Lousã e das suas aldeias do Xisto. 
Havia dois sítios na serra da Lousã que queríamos visitar, a aldeia de Talasnal e o tão famoso baloiço da serra da Lousã. Da Cruz Alta até à Lousã seria aproximadamente, cinquenta minutos de caminho, e em menos de nada estávamos no imenso vale onde fica situada a vila da Lousã. Dali começámos a subir a serra em direcção a uma das doze aldeias de xisto que há nesta serra. Íamos em direção a Talasnal mas ainda há a Aigra Nona, Aigra Velha, Candal, Casal de São Simão, Casal Novo, Cerdeira, Chiqueiro, Comareira, Ferraria de São João, Gondramaz e Pena, como estão a ver há muito que visitar por aqui. A subida faz-se por uma estrada típica de uma serra, curvas e mais curvas, vegetação por vezes bastante densa e de repente surge uma clareira e temos esta magnífica vista sobre a vila da Lousã.



Continuando a subir até um ponto onde haveríamos de virar à esquerda e começarmos a descer para a aldeia de Talasnal. Esta é, desde há muito, a Aldeia do Xisto da serra da Lousã que tem dado mais visibilidade e carisma ao conjunto. Pela sua dimensão e disposição, mas também pelos muitos pormenores de recuperação das suas casas, e também pela forma como a aldeia nos seduz pela boca.



Perdida numa encosta da serra, lá estava ela à nossa espera. 
Assim que chegamos ao largo que dá acesso ao interior desta aldeia, a sua fonte dá-nos as boas vindas com o som da água a sair pela sua bica. A ideia de paz surge na nossa cabeça e é pena que houvesse algumas pessoas, pois ainda seria mais maravilhoso ouvir todo o som puro daquela aldeia. 


As casas decoram-se com os ramos das videiras. A ruela principal acompanha o declive da encosta, num percurso íngreme.



Dela derivam becos e ruelas, que criam um ambiente de descoberta que todos gostam de explorar à espera da surpresa de um novo recanto. Descobrir esta aldeia representa mergulhar no mundo mágico e imaginar como seria a vida nestas aldeias em tempos ainda não muito longínquos. 


 
E por ali continuamos por rua e ruelas cada uma mais linda que a outra, andando por ali parece que estamos num conto de natal, só falta mesmo a neve e as luzes para levar os nossos sonhos para uma aldeia qualquer do país do Pai Natal. 



Num daqueles becos de encantar vamos descobrir a Bar do Curral, um pequeno bar com uma esplanada que nos dá uma vista sobre aquele vale aos pés da aldeia, aproveitámos para nos sentar e contemplar toda aquela beleza.




O dono do bar, com uma enorme simpatia trouxe-nos um licor de baunilha que era uma coisa do outro mundo. Estávamos no paraíso !!



Falta aqui o copo do J.Santos que não bebeu, ainda pensámos em beber por ele mas parecia mal. 😂
Regressámos até junto das motas e a próxima etapa seria irmos até ao famoso baloiço da serra da Lousã, deve ser o baloiço mais fotografado para o Instagram. Mais uma aventura esperava por nós, voltámos pela mesma estrada e num determinado sítio o meu amigo GPS manda-me sair à direita e o que nos aparece pela frente parecia ser uma estrada com pouco alcatrão, conforme avançamos, as valas na estrada cada vez eram mais frequentes, o alcatrão desapareceu e o que tínhamos era terra, pedras e alguma água que escorria pelo caminho mas lá continuámos, talvez seja só um bocadinho e depois passa, pensava eu. -  Passa, passa, ao fim de 7 kms finalmente entramos numa estrada com alcatrão e um pouco mais à frente estávamos no baloiço da serra da Lousã.  Quando parámos é que foi ouvir o J. Santos, "minha rica motinha, olha que ela já tem vinte anos", por seu lado o J. Flora estava eufórico e lá gritava - "andámos a fazer "alfederoude" minha mãe ninguém o calava. 
Chegámos ao pé do dito baloiço e até faziam fila para uma fotografia 🙈, realmente fica giro uma fotografia tirada no baloiço, tirámos fora e já não foi mau. 


Esta rapariga quis ser fotografada por mim.


Como não nos metemos da fila para o baloiço tiramos esta foto ao lado do baloiço, foi o que se pôde arranjar 😂😂


Era hora de começarmos a descer a serra e irmos até Serpins, era lá que iríamos dormir a nossa última noite de aventura. O local escolhido foi http://www.serpinscamping.com/ , a aldeia fica num vale com o rio mesmo junto ao parque de campismo, o som da água e da natureza iria-nos acompanhar durante a noite. 



O jantar desta noite seria os restos que tínhamos acumulado do dia anterior, não se podia estragar nada. Ainda fomos um pouco até ao bar do parque, muito simpático este local, óptima descoberta. 
Hora de descansar, amanhã seria o último dia de aventura ... 


Dia 6

Nada como acordar às 7 da manhã com esta sinfonia : 


Hora de arrumar tudo e partir, primeiro destino, Dornes. 


Tudo arrumado e vamos embora antes que chova. Não era dia de chuva, já tínhamos apanhado água suficiente nos dias anteriores, o regresso a Lisboa seria com sol e boa temperatura para se andar de mota. Lá fomos rolando com uma paragem técnica para um menino beber um galãozinho, porque sem o galãozinho não consegue pensar 😂😂
Sem grandes preocupações chegámos a Dornes por volta das 11 da manhã, estava tudo calmo nesta aldeia junto a um dos braços da barragem de Castelo do Bode. Há poucas vistas tão inspiradoras como a que se obtém a partir do ponto mais histórico de Dornes, junto à misteriosa Torre Pentagonal Templária, obra do século XII.



Daqui, as águas mansas do Zêzere e do lago formado pela construção da barragem de Castelo do Bode, são um convite para o mergulho, um passeio de barco ou um dia de pesca.




No largo junto à torre à um bar com uma bela esplanada onde podemos contemplar as águas do Zêzere e tomar algo fresco com os amigos e brindar à amizade. 


De Dornes seguimos até Ferreira do Zêzere, terra de muita gente boa que por lá conheço, pena que o Bar do Marroquino estivesse fechado, pois de certeza que não sairíamos de lá tão cedo, e fomos almoçar ao Lago Azul, zona já com algum turismo que aproveitou ao máximo o bem que a barragem de Castelo do Bode trouxe para a região. O almoço não comento porque não vale a pena. Havia alguém que queria adoçar a boca à sua amada quando chegasse a casa e pediu-me para passarmos por Abrantes porque queria levar palha, mas de Abrantes atenção. 
Os conventos femininos (séculos XIV e XVI) da região estão seguramente na origem de muitos dos doces conventuais, cujas receitas permitem ainda hoje adoçar a boca a muita gente. O Convento da Graça é um dos que mais se destaca, como um dos locais de onde saíram muitas das receitas da doçaria conventual da região. Pensa-se que foi deste convento que nasceu o tão afamado doce conventual desta região, chamado de "Palha de Abrantes", devido ao grande número de fios de ovos, parecendo um pouco de palha, daí vem o nome deste doce. Digo-vos que é bem mais doce que a palha e muito melhor. 


Enquanto alguém saboreava um pouco de "Palha de Abrantes", eu recebia beijos das crianças da cidade de Abrantes. 
Íamos começar a última etapa da nossa aventura, de Abrantes até ao Entroncamento foi um saltinho, a capital do cavalo, Golegã era já a seguir e atravessando o famoso dique dos vinte chegámos a Chamusca, terra de touros e toureiros. E como não íamos com pressa o melhor é parar em Vale de Cavalos e beber uma água fresquinha. 
Ali combinámos que o melhor que fazíamos era ir directo ao local onde começámos e comer uns belos e saborosos caracóis, siga para Lisboa que os caracóis e as louras estão à nossa espera. E tranquilamente chegámos a Lisboa e ao local onde começámos esta aventura. 


Um brinde à nossa aventura e às viagens.
 
Foi bom partilhar com estes dois amigos esta aventura, para um foi o descobrir de muita coisa para outro o recordar velhos tempos. Haja saúde e algum dinheiro para a gasolina que aventuras como esta não faltarão, obrigado aos dois por tudo, pela alegria, pelos petiscos que fizemos, pela água que o J. Flora ia buscar para o jantar, pois sem ela não haveria jantar. 😂😂

Eram para ser cerca de 2000 kms mas fizemos um pouco menos, o mau tempo não nos deixou ir a sítios que queríamos ir mas um dia vamos lá. Obrigado amigos ...


Seis dias depois e com 1760 kms feitos a minha Toura está de regresso à garagem, cada vez gosto mais desta mota. 
Venham as próximas aventuras e que o sonho de viajar nunca desapareça dos nossos sonhos, porque viajando é a única maneira que temos de gastar dinheiro e ficarmos mais ricos, nunca se esqueçam disto.

Um pequeno resumo em video desta aventura:




"Faz Parte da Aventura"







AGRADECIMENTOS: À minha família, aos Jorge´s que me acompanharam nesta aventura e aos amigos que me acompanharam à distância. Aos meus patrocinadores, ah desculpem não tenho, mas gostaria !! 😂😂


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Voando na Estrada