Se os feriados existem, há que aproveitar e tornar os fins de semana grandes. Já algum tempo que eu andava para viajar ao longo da maior estrada do nosso pais, a famosa e já conhecida internacionalmente, a Estrada Nacional 2 por alguns também chamada de N2. Digo conhecida internacionalmente devido a me ter cruzado com alguns espanhóis, franceses e até holandeses.
Quinta feira era feriado e desafiei o meu amigo Paulo Jorge para irmos fazer a N2, como de costume aceitou logo e lá começámos a preparar as coisas e decidimos convidar também para esta aventura o Ricardo Cordeiro, o Raúl Cordeiro e o Paulo Fernades. Decidiu-se que sairíamos na quinta e faríamos a viagem até Chaves nesse dia, as estradas escolhidas seriam sempre as nacionais. Na sexta o início seria no Km 0 no local exato onde está o marco kilométrico a assinalar o local, e o final seria perto de Vila de Rei mais concretamente na aldeia de São Domingos. O segundo dia levaria-nos até Faro o km 738 e fim da N2. Dois dias era pouco para ver tudo o que queria, a N2 está repleta de coisas interessantes mas não dava para fazer esticar os dias, vamos aproveitar a estrada e apreciar alguns locais da paisagem e noutra altura com mais calma visita-se coisas interessantes que há ao longo da N2, principalmente na zona norte.
Dia 1
O dia acordou com sol, nada melhor que o sol para nos acompanhar numa viagem. Tínhamos marcado para as 9 horas a saída e conforme combinado lá estávamos os cinco, pontuais e cheios de pressa para arrancar nesta "aventura".
A primeira parte seria em autoestrada (A1) até Vila Franca de Xira para se fugir às confusões de transito nos arredores de Lisboa, em Vila Franca entrávamos na N1, estrada mítica também pois em tempos era o único traçado rodoviário que ligava as duas maiores cidades do pais, Lisboa e Porto, em Alenquer a N1 passa a ser o IC2 e o sol tinha dado lugar a umas nuvens que prometiam chuva. E se prometiam melhor fizeram, na zona da Venda das Raparigas, nome lindo para uma terra, começou uma chuva miudinha a cair sobre nós, essa chuva foi a nossa companhia até à zona de Condeixa-a-Nova onde fizemos a primeira paragem, já tínhamos deixado para trás, Batalha, Leiria e Pombal.
Lá se colocou a conversa da altura em dia e continuámos acompanhados da chuva e parece que queria engrossar, coisa que já estamos habituados ultimamente, a ideia seria almoçarmos na zona de Mangualde, tínhamos levado comida para o almoço, não podíamos perder muito tempo pois o caminho ainda era longo mas muito bonito. Depois de passarmos Coimbra e entrarmos na IP3, o Paulo Fernandes faz-me sinal que precisava de gasolina, lembrava-me que mais à frente havia um posto de abastecimento onde já tinha parado aquando de uma outra viagem, chegámos ao local e não era que o posto estava em obras. "Menino Paulo isso é para sair abastecido no ínicio, não é sair de Lisboa com o depósito por atestar", o posto de abastecimento mais próximo do local de onde estávamos ficava a 8 kms no meio da serra mas lá fomos e atestámos a mota do Paulo Fernandes. Ao passarmos por Mangualde surgiu o primeiro susto com a mota do Paulo Jorge, lembrou-se de começar aquecer que nem uma doida, conforme aqueceu, depois de uma ligeira paragem numa bomba de gasolina e de se ver se o líquido refrigerante estava a nível, também arrefeceu e seguimos viagem. Não tardou e encontrámos uma mesas à beira de estrada que à muito tempo já não eram usadas, tal era o tamanho das ervas à sua volta. Ahahahahaha. É mesmo aqui que vamos almoçar e assim foi...
E lá seguimos nós na nossa caminhada até Chaves, rapidamente chegámos a Moimenta da Beira e começámos a subir em direção a Foz Côa e não tardou estávamos a passar a Barragem do Pocinho, tivemos sorte pois estava a entrar na enclusa da barragem, um barco de dimensões consideráveis que estava a fazer um cruzeiro pelo rio Douro. O Aproveitamento Hidroeléctrico do Pocinho fica situado sensivelmente a meio do troço delimitado pelas confluências dos rios Côa e Sabor. A sua albufeira, à cota máxima de retenção normal de 125,50 m, estende-se ao longo de 40 km e tem uma capacidade total de 83.070.000 m³, sendo apenas de 12.240.000 m³ o volume utilizável em exploração normal. Este aproveitamento, o mais a montante do troço português do Douro, entrou em serviço em Março de 1983, tendo sido o quarto a ser realizado no referido troço. A barragem do Pocinho é constituída essencialmente por uma central, implantada junto da margem esquerda, por uma Barragem-Descarregador na continuidade daquela e separada dela pelo muro Barragem-Central, onde se integra uma eclusa de peixes, do tipo Borland e por uma eclusa do canal de navegação do Douro no encontro direito da barragem, com um comprimento de cerca de 90 m e uma largura de 12,1 m. A jusante da central, na encosta da margem esquerda, encontra-se a subestação.
E o barco lá seguiu o seu trajeto rio acima e nós seguimos o nosso, logo a seguir Torre de Moncorvo e não tardava nada e chegávamos a Mirandela terra da boa alheira mas a pressa de chegar a Chaves era tanta que nem as provámos. De Mirandela a Valpaços é um instante e é aí que acontece o segundo susto do dia com a mota do Paulo Jorge, começou a deitar fumo e só se via óleo em cima do motor "foi desta que morreu", "pensei eu, queres ver que vou ter que fazer o resto da viagem com ele à pendura ?" Lá parámos e afinal era a tampa do óleo que se tinha desapertado e o óleo estava a sair, daí o fumo e o motor todo escorrido de óleo. Tampa recolocada no sítio e bem apertada e siga que Chaves, e é já ali. E era mesmo, nada melhor para comemorar a chegada a Chaves que parar numa casa típica da terra e provar o famoso Presunto de Chaves. Bem bom diga-se de passagem. Com um lanche bem aviado entrámos em Chaves e fomos até ao hotel, um quarto para os cinco, vai ser bonito.
O jantar foi no restaurante "A Talha" na companhia do Ricardo Nascimento e da esposa que também iriam fazer a N2 mas num ritmo muito mais calmo que o nosso pois tinham mais tempo para chegar a Faro. O Ricardo Nascimento é em quem confio os pneus da minha mota, já a alguns anos que pneus só compro na Motocenter.
Hora de descansar porque amanhã é dia de levantar cedo e fazer metade do trajeto da N2 que será até São Domingos que fica ao km 372.
Dia 2
E chegou o dia do km 0, o marco quilométrico ficava a cerca de 500 metros do hotel onde dormimos. A manhã tinha acordado com a ameaça de chuva, o céu apresentava-se carregado, motas preparadas e era hora de arrancar até à rotunda onde se encontra o marco que indica o km 0.
Percorremos os quinhentos metros iniciais e parei um pouco antes da rotunda para nos juntarmos todos e tirarmos a fotografia da praxe, chega-se ao pé de mim um policia e pergunta se ia demorar muito, eu lá lhe expliquei a razão de estar ali parado e muito simpático disse: "pare ali no meio da rotunda que não há problema, se é só para tirarem uma fotografia". E assim fiz mota para cima da rotunda bem ao lado do marco quilométrico e lá foram chegando os restantes membros da equipa. Não podemos demorar muito pois já estavam dois espanhóis em fila de espera para fazerem o mesmo que nós, cruzámos-nos várias vezes com eles ao logo da N2.
Percorremos os quinhentos metros iniciais e parei um pouco antes da rotunda para nos juntarmos todos e tirarmos a fotografia da praxe, chega-se ao pé de mim um policia e pergunta se ia demorar muito, eu lá lhe expliquei a razão de estar ali parado e muito simpático disse: "pare ali no meio da rotunda que não há problema, se é só para tirarem uma fotografia". E assim fiz mota para cima da rotunda bem ao lado do marco quilométrico e lá foram chegando os restantes membros da equipa. Não podemos demorar muito pois já estavam dois espanhóis em fila de espera para fazerem o mesmo que nós, cruzámos-nos várias vezes com eles ao logo da N2.
Seguindo a N2 e a seguir a Pedras Salgadas vem Vila pouca de Aguiar, os terrenos começam a ser cada vez mais montanhosos e a N2 começa a dar-nos as primeiras séries de curvas tão apreciadas por nós motard´s. Depois de Vila Pouca de Aguiar vamos até Vila Real, o verde predomina por estas serras decoradas com penedos e revestidas com carvalhos. O rio Corgo acompanha-nos, a nossa esquerda e segue para sul como nós. Mais à frente surge à nossa frente as primeiras depressões do vale do Douro e, para além dele, as serras beirãs , onde se destaca a Serra de Montemuro. Começam aparecer as primeiras vinhas do Douro Vinhateiro.
Ao chegarmos a Vila Real tínhamos duas opções, ou seguíamos o traçado primitivo pelo centro da cidade ou contornaríamos a cidade por uma estrada alternativa e fugiríamos à confusão da cidade, como de confusões citadinas não gostamos muito fomos pela alternativa e não tardou já estaríamos novamente na N2 e com Vila Real para trás. E lá continuamos a nossa aventura, a estrada nesta zona é algo sinuosa, em descidas e subidas mas sempre dominada pela presença do belo Rio Douro ao fundo. É um trajecto de excelência da Região Demarcada do Douro e pelo prestigio conferido pela classificação Alto Douro VInhateiro - Património Mundial. Descemos as encostas a norte do rio até à sua margem direita mas sempre com a grande serra do Marão a Oeste, um pouco antes de chegar à Régua aproveitamos para parar e beber um café, já era quase meio dia e nós com tanta curva e tamanha beleza da região nem dávamos pelos kms e pelo tempo passar. Atravessámos o rio Douro pela Ponte da Régua e subimos as encostas da margem sul atingindo o km 100 quase à entrada de Lamego. Não deu para parar neste marco devido à sua localização onde poderíamos por em risco a nossa integridade física como arranjar problemas a quem circulasse na estrada. À chegada a Lamego o Paulo faz me sinal que algo não estava bem com a mota dele, mais uma aventura de Paulo e a sua mota amestrada. Parámos no centro de Lamego onde a cidade esperava pelos participantes do "Lés a Lés" que se estava a realizar naquele fim de semana. Não notei nada de anormal da mota do Paulo por isso, siga ... Do local onde estávamos conseguimos ver a magnífica escadaria da Senhora dos Remédios, por falha minha não se tirou nenhuma fotografia a tão lindo monumento. Saímos de Lamego e continuámos pela N2 em direcção a sul. O trajecto continuava a subir desde que atravessámos o Rio Douro na Régua, será sempre a subir até atingirmos o km mais alto da N2, o km 128, este quilometro está a 987 metros de altitude, até Faro nunca mais subiremos tão alto. Aproveitámos um parque de merendas que ali estava e fomos comer qualquer coisa pois já era hora de almoço.
A partir daqui é sempre a descer até ao Rio Paiva e chegamos a Castro Daire. Cruzamos o vale do Vouga e continuamos a descer suavemente até Viseu atravessando a cidade e passando pelo famoso Rossio de Viseu com o seu lindo jardim que se encontra à nossa direita e seguimos em direcção à saída. À saída de Viseu torna-se algo confuso encontrar novamente a N2, tal é o número de ruas e estradas novas as quais fizeram desaparecer pequenos troços da nossa estrada. Lá conseguimos encontrar o nosso rumo em direcção a Vila Chã de Sá e aí começa a travessia da região do Dão, com passagem pelas cidades de Tondela, e Santa Comba Dão até chegarmos à albufeira da Barragem da Aguieira. O vale do Dão acompanhar-nos-á até Santa Comba Dão pelo nosso lado esquerdo e a serra do Caramulo pelo nosso lado direito. Passamos pelo meio de Santa Comba atravessamos o rio Dão e chegamos ao Vimieiro, do lado direito da N2 encontramos a residência particular que foi de Salazar. Entramos no troço mais alterado devido à construção da Barragem da Aguieira e da IP3. Nesta zona a N2 passava por uma aldeia chamada Foz do Dão e também devido à construção da barragem ficou submersa, também com ela ficou a primeira ponte de Salazar, mandada construir por Salazar.
Foi inaugurada a 17 de Outubro de 1935 e a 12 de maio de 1970 via o seu afogamento deliberado pelo mesmo regime que a mandou construir. Marcelo Caetano aprovava a construção da Barragem da Aguieira e o afogamento da ponte e da aldeia da Foz do Dão. A ponte não resistiu tanto tempo como o regime que a construiu e desapareceria tranquilamente nas águas da democracia no ano de 1981. Só uma curiosidade, naquela altura a ponte apresentava o maior arco em cimento armado construído em Portugal (160 metros de vão). Seguindo pela N2 sempre ao longo das margens do rio Mondego desde a Barragem da Aguieira, íamos mudando de margem constantemente até Penacova. Um pouco antes de Penacova existe uma formação rochosa chamada de Livraria do Mondego. Monumento natural que marca a paisagem, a Livraria do Mondego é um monumento que o tempo esculpiu ao longo de mais de 400 milhões de anos. Depois de ter recebido o Alva, seu afluente da margem esquerda, o Mondego estrangula-se ao atravessar o contraforte de Entre Penedos e surgem as altas assentadas de quartzíticos dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse, o que de resto deu origem à designação popular de Livraria do Mondego. Constituída por quartzíticos do Ordovícico, a Livraria do Mondego foi, por Galopim de Carvalho, classificada como um Geomonumento ao Nível do Afloramento, constituindo-se, pelas características geológicas que encerra e pela graciosidade escultórica que o tempo lhe incutiu, como um dos mais singulares monumentos naturais de Portugal. Depois de Penacova entramos em mais uma etapa de curvas sem fim, cruzamos a também famosa estrada da beira (N17), descemos ao vale do Ceira e começamos a subir as encostas da serra da Lousã até atingirmos o alto e começarmos a descer para o vale do Zêzere. A este vê-se a serra do Açor e atravessamos o território das aldeias do xisto, estamos num troço bastante sinuoso com muita vegetação e encostas com declives bem acentuados. Atravessamos Góis, terra famosa pela sua concentração motard e aproveitamos para beber uma fresquinha numa taberna bem tradicional da vila. As curvas da serra da Lousa continuam connosco e não lhes dizemos que não, aproveitamos cada curva mas sempre com os cuidados devidos. Começamos a entrar na zona que o o ano passado foi bastante fustigada pelos incêndios, certas zonas de alcatrão tinham as marcas do fogo que por ali andou, o verde deixou-nos e agora predominava o cinzento e aqui ou ali uma ponta de verde de alguma planta que teimava em crescer em terra queimada. Pedrogão Grande aproximava-se, tínhamos deixado para trás kms maravilhosos de curvas, viro à esquerda para entrar em Pedrogão e ao chegar à primeira rotunda não vejo ninguém atrás de mim. - Ups onde ficaram ? Esperem e ninguém aparecia, voltei para trás e lá estavam eles um pouco mais à frente do cruzamento e a mota amestrada do Paulo decidiu enfiar-se num buraco que estava na estrada e entortar a jante, o ar do pneu, foi-se. E agora como vamos endireitar isto para receber ar ? Um homem que passou indicou-nos que mais abaixo havia uma oficina de motas mas tínhamos que nos despachar porque fechava às 19. Faltavam 5 minutos, e lá chegámos à MotoCabril. O responsável viu a jante e não gostou do que viu mas disse que ia tentar recuperar a jante de maneira a seguirmos viagem. O mecânico já estava de saída também e voltou para trás para nos ajudar. Uma hora depois, sensivelmente, a mota estava cá fora e nós poderíamos seguir viagem. Eu tinha combinado com o meu sogro que chegaríamos por volta das 8 da noite e andar bem de Pedrogão a São Domingos - Sardoal ainda são 50 minutos. Agradecemos atenção da MotoCabril e seguimos viagem N2 abaixo mas a um ritmo bem acelerado, não tardou estávamos atravessar a Sertã e a seguir vinham mais umas curvas bem rápidas até Vila de Rei, deixámos a visita ao centro Geodésico para o dia seguinte e seguimos directamente para casa, pois o lume já estava aceso e a carne a grelhar.
Dia 3
Íamos começar a última etapa da N2, estávamos um pouco mais à frente que o meio do percurso mas devido aos problemas do dia anterior e à hora tardia que chegámos a Vila de Rei, já não fomos ao Picoto da Melriça, mais conhecido como o centro geodésico de Portugal. Despedimos-nos do Ti Manuel, carregámos as motas, verificámos tudo e lá fomos. Uns kms para trás e rapidamente chegámos ao Picoto da Melriça através da variante da N2, uma estrada que fizeram paralela à antiga N2 mas com melhores condições, antigamente para se ir do Sardoal a Vila de Rei demorava-se 30 minutos agora com a variante da N2 demora-se pouco mais de 10 minutos.
Com uma altitude de 600 m, este local permite ao seu visitante uma visão de 360º sobre um horizonte vastíssimo, em que se destaca a Serra da Lousã e, com tempo limpo, a Serra da Estrela, esta quase a 100 km de distância. Neste local existe o Museu da Geodesia. Sala de exposição temática, pequeno auditório, loja de recordações e bar, enriquecem este espaço num local que é uma das referências do concelho. Aqui situa-se o vértice geodésico de primeira ordem, conhecido por Picoto da Melriça. Contudo, o ponto central da projecção utilizada na cartografia portuguesa fica perto deste local: a cerca de 200 metros para oeste e 2900 metros para sul. O marco geodésico é uma pirâmide de alvenaria com nove metros de altura, começada a construir em 1802 e situada a uma altitude de 587 metros. Lá do alto obtém-se excelente vista de 360º sobre toda a região e é possível distinguir as terras da região envolvente. Neste local situa-se também o Museu da Geodesia, inaugurado em 2002, que apresenta uma sala de exposições, um pequeno auditório e uma loja de recordações.
A Serra da Melriça, conhecida localmente como "Picoto da Melriça", é uma serra portuguesa situada a cerca de dois quilómetros a nordeste da povoação de Vila de Rei, sede do concelho com o mesmo nome, do Distrito de Castelo Branco.Com uma área pequena de ocupação, tem a altura máxima de 592 metros. A importância desta serra resulta do facto de nela estar localizado o Centro Geodésico de Portugal Continental. Nela encontra-se o marco geodésico padrão "TF4" a partir do qual se deu início às observações angulares dos restantes vértices geodésicos de todo o Portugal Continental.
Quando chegámos já lá estava um grupo que também andava a percorrer a N2 e passaram por nós no dia anterior quando estávamos parados a almoçar, era um grupo significativamente grande e com grande espírito motard, trocámos algumas impressões com alguns elementos, algumas fotografias e claro tivemos que fazer uma fotografia de grupo no centro de Portugal.
Principalmente a mulheres deste grupo adoraram a nossas t´shirts e fizeram questão de tirar também uma fotografia com alguns dos nossos "modelos"
Consegue-se ter uma vista deslumbrante num ângulo de 360º e distinguir-se a norte e a este mais serras e para sul e oeste mais planícies ou serras de menor dimensão.
Despedimos-nos com um até já do outro grupo e seguimos o nosso rumo, descemos a serra da Melriça e voltámos a entrar na N2, passámos ao lado de Vila de Rei e na última rotunda virámos à esquerda em direção a Vale de Grou e continuarmos pela trajeto primitivo da N2. Antes de chegarmos ao Milreu encontrámos o km do meio da N2, o km 369 e claro, tivemos que parar e tirar a fotografia da praxe.
No meio de uma zona fustigada pelos incêndios do ano passado lá estava ele meio torto, meio queimado e quase sem tinta, só o relevo do números dava para identificar o km 369.
Seguindo por uma zona em que a N2 é relativamente estreita, bastantes curvas, algumas bem fechadas e tranquilamente chegamos ao Penedo Furado. As características do maciço rochoso fazem da Praia Fluvial do Penedo Furado, um autêntico paraíso, oferecendo um conjunto de pequenas quedas de água, visíveis a escassos metros, que podem ser apreciadas ao percorrer um estreito caminho talhado na rocha. Esta é a estância balnear mais procurada do concelho de Vila de Rei, não só pela sua água límpida e cristalina que lentamente vai correndo pelo leito, através de uma passagem natural na rocha, mas também pelas infra-estruturas.
Na zona mais elevada, existe um rochedo gigantesco com uma enorme abertura de feitio afunilado, que dá nome à praia, onde foi criado o Miradouro do Penedo Furado, de onde é possível admirar a magnífica paisagem de serras e montes revestidos de pinhais, a ribeira do Codes, a albufeira da Barragem do Castelo do Bode e algumas casas das povoações envolventes.
Do lado direito do miradouro, existe um nicho com a imagem de Nossa Senhora dos Caminhos, após a qual existe um trilho lateral que permite passar à zona mais baixa do penedo, e descer até à praia fluvial, passando pela denominada "Bicha Pintada". A "Bicha Pintada", localizada na margem direita da Ribeira do Codes, abaixo do miradouro do Penedo Furado, é um fóssil que, segundo alguns estudiosos, se crê que tenha mais de 480 milhões de anos, inserido no topo de uma camada de quartzito cinzento-escuro, com 30 cm de espessura. Próximo do Miradouro do Penedo Furado, existe o Miradouro das Fragas do Rabadão, onde existe uma via-sacra e um pequeno santuário, cujas estatuetas foram oferecidas por populares, de onde se pode apreciar a paisagem até à albufeira de Castelo de Bode e onde se inicia um trilho confluente com o trilho do miradouro anterior, com ligação à "Bicha Pintada". O Penedo Furado é um dos locais mais místicos da região. Mitos, contos e lendas que o povo foi passando de geração em geração, fazem também parte da História do Penedo Furado e deixam a imaginação popular aliar-se a toda a beleza do espaço envolvente. Sou um pouco suspeito para falar do Penedo Furado pois a minha família é desta zona e em miúdo grandes banhos tomei no Penedo Furado mais conhecido pelas gentes da terra como: "vamos tomar banho ao Codes"
Mais abaixo atravessamos a ponte do Codes e estávamos no distrito de Santarém, logo a seguir Brescovo, aqui as povoações são pequenas com meia dúzia de casas, muitas das quais abandonadas pois os donos foram para as grandes cidades e por lá ficaram e agora os herdeiros não querem saber delas para nada. E chegamos ao km 380 e à terra onde passa´mos a noite, São Domingos. Terra que me diz muito e que adoro lá estar, à saída de São Domingos uma serração agora cheia de madeira queimada retirada dos imensos pinhais que existiam na zona, agora reduzidos a cinzas, e continuando numa zona da N2 bastante estreita e sinuosa chegamos a Andreus e logo a seguir à sede de concelho, Sardoal. À sua saída é o local onde a N2 se junta com a variante N2 e daí seguimos até Abrantes, onde anda perdido o km 400 e atravessamos o Tejo por uma extensa ponte do séc. XIX e, já na margem sul, chegamos ao Rossio ao Sul do Tejo e atravessamos uma zona de grandes tradições industriais, hoje praticamente tudo deixado ao abandono e algumas em ruínas, como é exemplo o edifício junto da estação de comboios. Começamos a entrar nas grandes retas em direção a Ponde de Sôr, o Alto Alentejo aproxima-se, os pinheiros e eucaliptos começam a dar lugar ao sobreiros. A bacia da barragem de Montargil acompanha-nos até atravessarmos o paredão que sustenta as águas e seguimos até Mora.
Logo a seguir a Mora temos a aldeia de Brotas e o seu Santuário de Nossa Senhora de Brotas, intimamente ligado às nascentes de água locais e também um dos santuários mais importantes do pais.
O troço de estrada que ligava Mora - Brotas - Montemor o Novo estava classificada em 1878 como estrada real de 2ª classe.
O calor e a fome começava a dar sinais e seguimos rapidamente até Montemor o Novo, onde umas bifanas bem saborosas esperavam por nós. Enquanto almoçávamos ainda tivemos a visita de um amigo Reguengos que vinha de Setúbal com a sua linda Harley Davidson. Já com as barriguitas satisfeitas era hora de nos fazermos à estrada, as grandes retas continuavam, o transito era praticamente nulo, por vezes dava a sensação que a N2 estava reservada para nós. Reservada e cheia de surpresas e a demonstrar a razão de sermos um dos melhores povos do mundo, embora por vezes não queiramos ser bons, mas nós somos. Ao chegar a Santiago de Escoural, reparo que o Raul não tinha médios na mota, fiz-lhe sinal e paramos para ver qual a razão, chega-se ao pé de nós um senhor que estava com um grupo de amigos sentados à beira da estrada e vai à parte de trás da sua bicicleta e tira de dentro de uma cesta de verga uma garrafa de ginja feita por ele em 2004 e para nos servir não se esqueceu dos pequenos copos de plástico. Maravilhoso. Ainda tínhamos cerca de 200 kms até chegar ao marco final por isso era tempo de voltarmos à estrada, o Paulo a partir daqui começou a pedir marcos quilométricos com números engraçados e nós fomos na conversa dele, o próximo era o km 555 e lá parámos para mais uma fotografia.
Alentejo a dentro lá continuámos, ao atravessar a aldeia do Torrão mais uma surpresa, havia pessoas com saquinhos com bocados de leitão a dar a quem passava. Esta nossa gente é maravilhosa. Não tardou estávamos em Ferreira do Alentejo e à medida que avançamos para sul, cada vez entramos mais nesta vasta extensão de solos pobres e pouco povoados que, sensivelmente após o km 600, se estende pelos concelhos de Aljustrel, Castro Verde, Ourique, e ainda Almodôver, onde o relevo começa a não ser tão uniforme até chegarmos às serras algarvias. Por aqui a paisagem é um campo de ondulações suaves, quase sem árvores, com casas de tempos a tempos, brancas rasteiras e onde o sol do fim do dia pinta de ouro as searas e o restolho dos terrenos. É o Alentejo em todo o seu esplendor a começar a tocar as serras algarvias, nós começávamos a preparar-nos para a última etapa, atravessar a tão famosa serra com curvas até nos fartar.
Ao km 619 passamos por Aljustrel, terra muito conhecida pelas suas minas que em tempos foi fonte de rendimento para as gentes desta zona. As tão famosas curvas já tomavam conta do nosso trajeto e o Paulo que mais um marco quilométrico, exatamente o km 666 e lá fomos nós em busca de mais um marco, após uma curva lá estava ele entre a vegetação quase seca.
A partir daqui entramos na serra do Caldeirão, é um troço de subidas e descidas, muitas curvas e contra-curvas sucessivas. Desde a saída de Almodôvor até São Brás de Alportel, foi o primeiro e único troço de estrada a obter a designação de "Estrada Património", um caso para os nosso governantes pensarem. De São Brás até Faro, descemos pelo barrocal até ao centro da cidade de Faro. Antes de entrarmos no centro de Faro encontramos para muitos o fim da N2, local exato onde está o último marco quilométrico, o km 738.
Alguns entendidos dizem que a N2 acaba junto à Doca de Recreio, nós como não queremos fazer desfeita a ninguém fizemos dois finais, o primeiro junto ao marco que assinala o km 738.
Depois de fazermos o primeiro final seguimos para o interior da cidade e chegámos ao km 739 junto à Doca de Recreio, junto ao cordão dunar que protege a Ria Formosa e onde , deixámos para trás as montanhas e as ondas do mar esperam por nós.
Foram dois dias de N2, 738 kms separam duas cidades tão importantes no nosso pais, é incrível como neste "pequeno" trajeto passamos por zonas completamente diferentes, realmente Portugal é GRANDE.
Depois refrescámos a garganta com uma fresquinha e fomos jantar perto de Mértola mais propriamente à aldeia de Corvos um famoso cozido de grão que se faz por lá. Nada melhor para acabar um dia que um cozido de grão ahahahaha.
Boas curvas se Deus quiser, by Padre Zé Fernando
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